sexta-feira, 18 de novembro de 2016

Ausência

e se me faço ausente
dos espaços
que meu corpo ocupa
é que não quero estar
em lugar algum
da vida que habito
a vida que me habita
não se encontra aqui, agora
foi-se a passear
volte outra hora
eu quero eremitar
na mata verde
e molhar meus pés
naquela fonte
sentar no meu trono de pedra
esvaziada
e reinar por trás
daquele monte

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

ANUNCIAÇÃO

Ouço ventos cantantes
ventos que dançam no azul
não há ventos tão alegres
como esses ventos do Sul
Mas ela vem do Norte...
Ela vem do Norte...
Doce e quente, dura e fria
como o traçado da sorte
Ela vem do Norte!

Eu sinto ventos precisos
transitando entre os ciprestes
não há ventos mais astutos
do que esses ventos do Leste
Mas ela vem do Norte...
Ela vem do Norte...
Faz sombra com seu poder
e encanta com seu porte
Ela vem do Norte!

Chegam ventos frios, loucos
insanos, trazendo a peste
ventos que contam mistérios
são esses ventos do Oeste
Mas ela vem do Norte...
Ela vem do Norte...
Em seu coração mora a vida
em seu olhar mora a morte
Ela vem do Norte!

terça-feira, 1 de setembro de 2015

MULHERES DE AREIA


Mulheres de areia
Que o vento massageia
Reforma e transforma
Desprende da forma
Espalha no ar
Livres pra voar
Sem horizontes distantes
Pois estão e são instantes


Lara Félix

terça-feira, 21 de julho de 2015

Aquela que um dia fui
Baniram-na para fora
Deixaram-na ao relento
Morreu sem choro e sem glória

Aquela que um dia fui
Superou tantas histórias
Acumulou tantos feitos
E enterrou-se sem memória

Aquela que um dia fui
Plena vida e sentimento
Agonizou lentamente
No açoite frio dos ventos

Aquela que um dia fui
Trataram sem lenitivo
E nunca há de voltar
Àqueles que se dizem vivos

Aquela que um dia fui
Só eu lamento a partida
E passo hoje meus anos

A chorar tal despedida

Lara Félix

quarta-feira, 17 de junho de 2015


Forjada em ferro
Por sobre a pedra
Com fogo vivo e sob a dor
Tornei-me a pedra
Tornei-me o fogo
Tornei-me o ferro
Eis o que sou

Que eu seja humana
Que eu seja doce
É coisa impossível
É ser outra em meu lugar

Como lembrar do gosto
Da fruta ainda não provada
Como fiar da pedra
O fio de seda que nela não há



Lara Félix


Ventania vem

Leva meus pensamentos

Sacode as roupas e o pó dos tempos

Derruba os frutos longe das raízes



Ventania vem

Leva minhas memórias

Enche meus olhos com o pó de outro lugar

Conta pra mim o que lá haverá


Ventania vem

Leva meus sentimentos

Sopra meus sonhos pra longe

Pra que eu os possa buscar





Lara Félix

sábado, 22 de novembro de 2014



meu coração me diz coisas
que não sei de onde ele tira
me conta o que os olhos não vêm
são verdade ou são mentira?

só sei que o tempo me afirma
com a sucessão de eventos
ouça mais seu coração
pense menos argumentos

Lara Félix

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

DE MÃE PARA FILHO

 Calma, picôco, calma.... Engatinha antes de andar
Que os teus caminhos no mundo não cansam de te esperar
Se soubesses como o tempo vai a tudo devorar
Te deslumbravas mais hoje, que a velhice há de chegar
Lá pra fora da porteira tem estradas, tem o mar
Infinitos horizontes que ainda vais desbravar
E todas estas surpresas que poderás encontrar
Vão tomar-te teus tesouros por tudo que hão de te dar
Pelo teu jardim florido não passe sem demorar
Sente a grama nos teus pés, cheira a flor a despontar

Calma, picôco, calma... Mude a pressa de falar
Deixa as palavras de lado pelo brilho do olhar
Deixa as palavras de lado pelo sorriso a brilhar
Que os caminhos lá de fora, que hão de um dia te levar
Ofuscarão nos teus olhos a luz que vejo a dançar
Sufocarão o teu riso, farão lágrima rolar
Quisera que tu soubesses que ainda vais desejar
Voltar no tempo de hoje e mais um pouco aproveitar
Da criança que já foste, que jamais irá voltar
Não tome dela seu tempo, não a queira abandonar

Lara Félix 

quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

TOTALIDADE

não pode haver um só
senão na há verdade

o tédio não é são
são barras de uma grade

mas se ninguém percebe
pra ser integridade
                              
se fundem muitos nomes
na minha identidade

Lara Félix

Dez/2013
me conheço pelo nome
esse que diz quem eu sou
não o nome que me deram
mas o que ecoa o meu som

não peça que eu pronuncie
não queira ouvir nem saber
esse nome me pertence
esse nome é meu poder

quando meu nome se solta
tem estrondo de trovão
tem força de tempestade
tem fúria de furacão

e quem escuta meu nome
nunca mais o quer ouvir
ele traz destruição
antes da paz ressurgir

não subestime meu nome
não o traga para fora
ele é a luz que te cega
e a treva que te devora

Lara Félix

Dez/2013