quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

DES(A)TINO

Diante da fogueira incandescente
Vejo o tempo em luz iridescente
Sorrindo a maldição de tantas eras
E me aprisionam garras de mil feras
Para que observe tudo o que se passa
E veja a alegria e a desgraça
Passiva e arrebatada de agonia
A assimilar toda a sabedoria
Do mesmo tempo que liberta e mata
Como se fosse o homem a barata
Que o tempo caça e esmaga com prazer
Com o qual faz o que lhe apraz fazer
Vejo o Senhor Absoluto Tempo escarnecer
Do homem que em sua vaidade quer crer
Ser ele o senhor absoluto da matéria
E vejo o tempo reduzi-lo à miséria
Sem que ele possa ao menos reagir
O homem passa e o tempo volta a emergir
De si mesmo, em ciclos infinitos
E embora o homem brade com seus gritos
A soberania que acredita sua
O tempo, apenas com a presença nua
Desmancha toda a ilusão desta vaidade
Estático em seu lugar, em sua serenidade
Diante da fogueira imensa onde assisto
Como num filme horrendo de Mefisto
O tempo agir em tudo e a tudo desfazer
Ouço a própria voz do tempo a me dizer

“O que me vês fazer com a arrogância
Do homem que nada vê senão ganância
Ao querer ser senhor e ter de curvar-se a mim
Não passa de uma ironia sem fim
Por isso rio tanto sem poupar a nada
Porque o destino faço eu, desta jornada
Mas a mim quem faz sem disto ciência
É o próprio homem, em sua demência
Que tanto acredita no que produz
Que carrega-me resignado feito uma cruz
Quando podia libertar-se sabendo disto
Que é ele quem me cria, não existo”

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