quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

ESPERA

O vento traz-me presságios, vaticino
E qual o som do mais doce dos sinos
Meu ouvido capta o uivo frágil desta hora
Em meu transe derradeiro vejo luzes
E o tempo entre eu e elas são mil cruzes
A me torturar com sua atroz demora

Vejo inevitável destino de delícias
E acalentada por tantas e tão ternas carícias
Minha alma espera aflita no calor do inferno
Adivinho e vislumbro um paraíso em vida
E embora saiba que para encontrá-lo não há saída
Estou à mercê dos caprichos de um tempo eterno

As horas passam, e os dias, e os anos
E embora cerquem-me os desenganos
Tal profecia mais me persegue e mais insiste
E quanto mais a busco na alegria da certeza
Tanto mais o tempo, em sua serena avareza
Molda em mim a escultura de um anjo triste

A cada dia que nasce e a cada passo
Silenciosamente eu sei que traço
O caminho entre a maldição e a sorte
E na jornada insana o que mais me apavora
É pensar se esta ventura tanta que tanto demora
Não há de vir somente com a morte

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